Os Cokwe distinguem três categorias de especialistas que podem intervir em seus
problemas. Antes de entrar na análise mais detalhada do papel desempenhado por cada
um deles, consideremos as forças que eles manipulam. Os três agentes classificados
dentro da sociedade cokwe são o adivinho (tahi), o curandeiro (mbuki) e o feiticeiro
(nganga). O primeiro interpreta os fatos principalmente emfunção das forças positivas
(mahamba), às quais é preciso estimar e às quais se devotamvariados cultos sobretudo do
domínio da seção clânica. Ao contrário, o feiticeiro (nganga) se serve de forças negativas
(wanga) que manipula pra detrimento de suas vítimas. Além desses dois agentes do
sobrenatural, há o curandeiro (mbuki) considerado antes de tudo como um “prático”,
conhecedor dos poderes curativos de uma infinidade de plantas e de produtos e o quadro
ritual no qual suas aplicações devem ser feitas.
O adivinho utiliza portanto as forças positivas mahamba
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, mundo no qual ele
próprio fora introduzido no momento em que a hamba Ngombo se apoderou dele. As
mahamba são essencialmente forças positivas, uma vez que representam as exigências
dos ancestrais, principalmente dos grandes chefes fundadores dos grupos. Se elas às vezes
incomodam (no caso das doenças, por exemplo), é como forma de advertência aos vivos
menos atentos a seus deveres para com os ancestrais. Essas forças são veneradas das mais
diversas maneiras. A forma mais característica do culto das mahamba é uma atividade
profissional: um indivíduo consagrado à uma hambadeterminada entrega-se à atividade
outrora exercida por uma pessoa possuída pela mesma hamba. Além dos atos periódicos
concretos do culto, o simples exercício dessa tarefa profissional será aceito pela hamba
como a forma mais importante do culto. O estudo que desenvolvemos aqui sobre a
atividade do adivinho é precisamente um exemplo da atividade exercida em honra da
hambaNgombo que o adivinho venera pelo exercício dessa atividade. Em compensação,
as forças negativas - wanga- são manipuladas pelas artes secretas do feiticeiro e são
consideradas não somente como uma causa das desgraças que se abatem sobre a
população, como também uma ameaça permanente da qual toda a gente tenta se defender.
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